quarta-feira, 23 de julho de 2008

Antropologia do Valor


Recebi esse material por e-mail. É interessante apesar da conclusão final, mas modifiquei da versão original.

A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.


O cara desce na estação do metrô de NY vestindo jeans, camiseta e boné, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar com entusiasmo para a multidão que passa por ali, bem na hora do rush matinal.

Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos passantes, ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3 milhões de dólares.

Alguns dias antes Bell havia tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam a bagatela de 1000 dólares.

A experiência, gravada em vídeo, mostra homens e mulheres de andar ligeiro, copo de café na mão, celular no ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.

A conclusão generalista: Em função dos instrumentos de marketing, estamos (seres humanos cosmopolitas) ficando cada vez mais acostumados a dar valor sob uma determinada circunstância de contexto. Isto é, quando Joshua Bell é embalado. E você o consome sob um aval, sob uma condição de strato social, sob uma necessidade do ego, sob uma indicação e/ou simplesmente por dizerem que é bom.

Algumas considerações devem ser levadas em conta:

- Colocar um cara tocando violino no metrô, é abusar ao extremo da relação de percepção. O foco das pessoas está voltado naquele específico momento para outro "drive". De ir para o trabalho e pegar o trem. Naturalmente não quer dizer que não se tenha que perceber, mas ficar parado escutando uma peça de violino pode ser um luxo para poucos nos dias atuais.

- A música clássica já deixou de ser uma unanimidade do grande público, por isso, acho um pouco demais cobrar que todos saibam quem é o Joshua Bell e que o violino seja um Stradivarius.

- Quando está a procura de entretenimento, o seu "drive" está com o foco voltado para uma necessidade. O público médio consome o Joshua Bell dessa forma, por 1mil dólares o ingresso. Apenas os entendidos e apaixonados por música poderiam, de fato, considerar o valor da peça independente da "embalagem".

É claro que toda embalagem é necessária, inclusive, convida aos não impactados para uma oportunidade de conhecer e dar o seu respectivo valor. De qualquer forma, é interessante observar que cada vez mais a influência está de fato tomando o espaço de apreciação única, que podemos exercer independente de qualquer outra intervenção.

2 comentários:

  1. brilhante, fils - o post e suas considerações finais. vou reblogar.
    bjs

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  2. Sensacional. Esse Joshua é realmente fantástico. Independente da velocidade das coisas e da ignorância musical, falamos da frieza e do individualismo, pq conhecendo ou não, sabendo ou não quem é aquele cara ou que violino é aquele, a música é algo maior. Toca os corações, abre caminho para lugares novos... eu me emocionei...

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