quinta-feira, 23 de abril de 2009

Joao Brasil e o ciclo da musica popular

....
Nao sou nenhum especialista em musicologia, nem tenho tamanho gabarito para dizer do que se trata da evolucao da musica popular brasileira. Mas observar e refletir sobre certos ciclos que envolvem muito mais que a musica em particular, eh uma forma de entender o comportamento cultural brasileiro.
....
Joao Brasil vem com seu novo experimento numa homenagem ao movimento Tropicalista, chamado Baile Parangole. No seu discurso, aplicado na sua criacao, esta o cerne de uma questao social. Nao eh uma nova essa colocacao, mas nos parece que chegamos em um novo ciclo. O ator? A Banda Calypso.
....
O ponto colocado, e defendido, esta na valorizacao do que existe de mais popular, sem elitizar o termo, e colocar no mesmo grau de importancia do que consideram de alta cultura. Joao Brasil esta correto em dizer que existe preconceito com a Banda Calypso, quando no recente show feito no Rio, nao tiverem sequer uma linha na imprensa. A Banda Calypso eh o maior fenomeno de vendas ha pelo menos 6 anos no Brasil, liderando cabeca a cabeca com o Calcinha Preta. O que isso representa?
....
A bola levantada eh o limite ou o abismo, que existe entre as denominacoes existentes - baixa e alta cultura. Joao Brasil cutuca dizendo que a importancia de Chimbinha e Guinga estao no mesmo nivel de representacao cultural. E de fato estao. Mas nao se engane que a valorizacao eh gratuita. Esteticamente o brega representa parte do Brasil, e musicalmente a Calypso tem no seu DNA as raizes da musica da America Central. Engracado, pois o que estamos chamando de alta cultura, por exemplo, sao os complexos hamonicos do choro executados pelo Guinga. Logo o choro/samba que na historia da nossa musica, representou exatamente o que hoje, o genero brega, representa - uma autentica representacao popular nao valorizada. Apenas o cuidado: existe o ruim. existe o mal feito. Por isso o tema eh polemico.
....
Sobre a questao de valorizacao sempre foi assim. O Lundu, a matriz do samba, so foi reconhecido nos saloes nobres da sociedade carioca quando foi sucesso em Portugal. Villa Lobos idem. A musica caipira idem. O samba idem. A bossa nova eh datada no show do Joao Gilberto em NY. Agora o funk idem. Isso so falando de musica. Existe um complexo de inferioridade da classe media/elite sobre a cultura do povo que desce rasgando a garganta do contragosto. Aquela coisa, o gosto nos serve de parametro sim, afinal voce nao precisa gostar da Banda Calypso so porque eh popular. O que na minha opiniao nao se deve, eh o olhar preconceituoso, de cultura menor. E os meios de comunicacao, voltados para a classe media tem sua parcela de culpa. Ou sera que a Revista Bravo colocaria na capa o fenomeno Calypso?
....
Esse fenomeno do valor representativo apos o aval internacional nao eh somente mais um sintoma de uma classe media com as mesmas caracteristas de uma socidade do sec XVIII. Nao formada por razoes naturais e evolutivas, mas sim implantada. A consequencia? A nao identificacao direta com o povo e a necessidade de querer se espelhar em alguma outra e que nunca foi. Assim foi querendo ser Portuguesa, Francesa, Inglesa, Americana.... e eh ai que surge a odisseia pela tal identidade brasileira.
....
Como diz Darcy Ribeiro, entres outros grandes da intelectualidade, a identidade brasileira ja existia e sempre existiu. Tao complexa e rica, por isso pouco compreendida. Tal a necessaria luta em diversas esferas do conhecimento, movimentos culturais numa guerra intelectual e secular para que essa identidade tivesse voz e reconhecida definitivamente. No fim, uma reflexao positiva....nao sei se por exotismo ou insistencia, as representacoes populares sao mais fortes que os formadores de opiniao. Minha sugestao: abra a cabeca. Cultura nao se classifica. Cultura apenas eh!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

escreva!